David Cronenberg: a expressão nua
"David Cronenberg é um dos nomes do cinema contemporâneo que melhor dispensa apresentações. Estamos perante um cineasta que, partindo de um semi-"underground", se foi gradualmente impondo como um dos mais importantes do nosso tempo, tendo-se tornado um nome praticamente consensual junto da crítica e uma referência para o público de cinema do mundo inteiro. Uma boa medida disso, aliás, é o modo como a palavra "cronenberguiano" se consagrou como adjectivo descritivo e não forçosamente aplicável apenas ao universo dos filmes realizados por David Cronenberg.
Poucos cineastas como ele terão explorado tão exaustiva e obsessivamente os horrores implícitos dos corpos e das mentes, fundido tão assustadoramente a carne e a psicologia ou a carne e a máquina. interrogado tão perturbadoramente o lugar e a vulnerabilidade do humano no num mundo contemporâneo tão dominado pela presença da mecânica ou da electrónica e pelas mais diversas substâncias químicas indutoras de alterações comportamentais. Não há "humanismo" mais peculiar e mais bizarro do que o de Cronenberg — mas no fundo, e neste sentido, é isso que ele é: o mais bizarro e peculiar dos cineastas "humanistas" contemporâneos. Com Cronenberg o cinema assumiu expressão nua, para citar David Thomson, a quem fomos buscar o título para a retrospectiva Cronenberg que este catálogo acompanha.
Vindo de um cinema barato, experimental, um pouco subterrâneo, Cronenberg foi atraindo atenções ao longo dos anos 70, normalmente trabalhando a partir de códigos associáveis aos do "terror": filmes como Shivers, Rabid, The Brood, Scanners, Videodrome. E foi pela via do género que se deu a sua entrada num circuito de produção mais abastado, que lhe oferecia outros meios. Cronenberg não os desperdiçou, e fez de filmes como Dead Zone ou The Fly sucessos comerciais de amplitude suficiente para se permitir outro tipo de ensaios narrativos bastante mais inqualificáveis. Obras como Dead Ringers, Naked Lunch (filmando o "infilmável" romance de Ballard), mas também os menos consensuais eXistenZ e Spider estão entre as mais singulares experiências do cinema dos últimos vinte anos. De A History of Violence, para já "último dos capítulos" da obra de um dos maiores criadores contemporâneos, todas as artes confundidas, não se espera menos do que isso."
[Cinemateca Portuguesa — Museu do Cinema]
Inclui:
Compilação de textos biográficos ou de análise da obra do realizador.
Filmografia como realizador, produtor e actor.
Entrevista com William S. Burroughs e David Cronenberg por Lynn Showden.
Organização literária Luís Miguel Oliveira, Maria João Madeira
Textos David Cronenberg, John Harkness, Serge Grünberg, Alan Stanbrook, Alain Garsault, Gianni Canova, Maria João Madeira, Luís Miguel Oliveira
Concepção gráfica Luís Miguel Castro
Traduções Gonçalo Sousa, Luís Miguel Oliveira, Maria João Madeira, Ricardo Mata de Oliveira
Fotografias Colecção Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema
1ª ed. 2006
Número de páginas 128
ISBN 972-619-229-3
Idioma PT